Os Terminais Portuários brasileiros enfrentam riscos crescentes associados às mudanças climáticas e eventos extremos, que ameaçam tanto a infraestrutura quanto a continuidade regular das operações logísticas. Em cidades litorâneas do Brasil, a elevação do nível do mar e o aumento na intensidade de tempestades ou períodos constantes de chuvas vêm resultando em inundações, deixando as instalações portuárias vulneráveis e inoperantes.
Esses fenômenos intensificam a frequência de eventos adversos que já impactam portos como os de Santos, Paranaguá e Itaqui, gerando interrupções operacionais e danos estruturais.
Impactos dos Eventos Extremos nas Operações Portuárias.
Eventos climáticos extremos afetam diretamente as operações diárias e a infraestrutura dos portos no Brasil. Estudos recentes da ANTAQ em parceria com a GIZ analisaram 21 portos públicos brasileiros e identificaram as principais ameaças climáticas ao setor. A seguir, destacam-se os principais riscos climáticos e seus impactos:
Tempestades e chuvas intensas: frentes frias e tempestades tropicais com precipitação extrema alagam pátios de terminais, causam deslizamentos e forçam a paralisação das operações por segurança. Atualmente, 10 portos já apresentam risco climático alto ou muito alto associado a tempestades, cenário este que tende a agravar-se com as mudanças do clima. Chuvas torrenciais interrompem acessos terrestres e inundam áreas de armazenagem, prejudicando toda a cadeia logística com atrasos nos cronogramas operacionais, inclusive com carregamento de porões de navios;
Vendavais (ventos fortes): rajadas acima de certos limiares comprometem atracações e estabilidade de guindastes e equipamentos, levando ao fechamento temporário do porto. Em condições de vento acima de ~50 km/h é comum a suspensão das operações até que o risco diminua;
Elevação do nível do mar: o aumento do nível médio eleva a probabilidade de inundações costeiras em marés altas e ressacas, bem como essas projeções indicam que até 2030, 11 (onze) portos brasileiros terão risco alto ou muito alto relacionado a esse fenômeno, incluindo Santos e Paranaguá. Tempestades intensas agravam ressacas, expondo estruturas a ondas anômalas e erosão costeira; e
Inundações (alagamentos): chuvas torrenciais sobrecarregam a drenagem local, inundando acessos e áreas operacionais. Eventos de alagamento já acarretaram interrupções e custos elevados de reparos em infraestrutura. No Porto de Itaqui, estudos destacam chuvas intensas como fator crítico de vulnerabilidade.
Esses impactos elevam custos operacionais, reduzem a vida útil de equipamentos e aumentam a imprevisibilidade no fluxo logístico e na execução dos cronogramas operacionais. Poucos portos brasileiros adotaram até o momento medidas de adaptação às mudanças climáticas, evidenciando a urgência de aprimorar a gestão de risco climático. Recomendações incluem obras estruturais (elevação de cais, construção de diques), melhorias de gestão (monitoramento meteorológico, planos de contingência) e maior atenção ao Programa de Gerenciamento de Riscos nos terminais portuários.
Seguro Paramétrico como Mitigação de Riscos Climáticos
Diante da volatilidade climática e da dificuldade de previsão exata de eventos extremos, soluções de transferência de risco inovadoras ganham destaque. O seguro paramétrico é eficaz para proteger operações portuárias contra eventos severos de maneira objetiva e ágil. Diferentemente de apólices tradicionais, que dependem da comprovação de danos, o seguro paramétrico define um índice mensurável (por exemplo, volume de chuva ou velocidade do vento) que, ao atingir um valor pré-acordado, aciona automaticamente o pagamento indenizatório. Por basear-se em dados meteorológicos independentes (por exemplo, registros do INMET ou estações de referência internacional), essa modalidade dispensa a vistoria física de sinistros e acelera a liquidação.
Na metodologia de pagamento paramétrico, o gatilho é previamente definido no contrato por meio de valores-limite de um índice climático (chuva acumulada, velocidade de vento, altura de onda etc.). Quando esse índice, medido por fonte confiável e independente, excede o limiar acordado, o pagamento é automaticamente disparado. O valor indenizatório pode ser calculado segundo esquema linear (proporcional ao excedente do índice em relação ao limiar) ou escalonado (pagamentos fixos para faixas de intensidade), conforme previsto na apólice. Essa abordagem elimina a necessidade de comprovação física de danos, reduz custos de processos de sinistro e acelera a liquidação, frequentemente ocorrendo em horas ou poucos dias após a confirmação do gatilho. Como resultado, o operador portuário dispõe de liquidez imediata para ações emergenciais e planejamento de recuperação, reduzindo impacto financeiro e operativo. Além disso, minimiza disputas sobre causa ou extensão do dano, fortalece o relacionamento segurado-seguradora e incentiva a adoção de medidas de mitigação pró-ativas.
As vantagens dessa abordagem são significativas:
Objetividade: se o gatilho definido ocorre, a indenização é devida com base em dados precisos e auditáveis, independentemente de comprovação direta de danos materiais.
Agilidade: o pagamento é quase imediato, sem necessidade de perícias demoradas, o que garante liquidez rápida no pós-evento.
Previsibilidade: ao conhecer antecipadamente os gatilhos e faixas de pagamento, o operador pode modelar cenários financeiros e reservar recursos conforme o plano de continuidade. Custos operacionais reduzidos: menor necessidade de auditorias e vistorias extensas, diminuindo despesas administrativas de sinistro.
Viabilidade para riscos complexos: abrange eventos de difícil modelagem tradicional ou com histórico insuficiente, ampliando a cobertura para riscos climáticos atípicos ou de baixa frequência. Corretoras globais já oferecem seguros paramétricos no Brasil, focando em riscos climáticos específicos. No setor portuário, tais soluções permitem proteger financeiramente terminais caso o volume de chuva, ventos fortes ou outro índice climático ultrapasse limites críticos, liberando o valor contratado automaticamente e assegurando liquidez imediata para reparos, realocação de cargas ou outras medidas operacionais. A Lockton oferece essa modalidade no Brasil, customizando coberturas para as particularidades de cada operação portuária, aumentando a resiliência frente aos riscos climáticos e consolidando-se como elemento-chave na estratégia de adaptação climática do setor.

