Principais Riscos do Agricultor
DENTRE AS DIVERSAS VARIÁVEIS ADMINISTRÁVEIS DE UMA PROPRIEDADE RURAL, O CLIMA NÃO SE ENQUADRA NESTE MEIO, TORNANDO O PRODUTOR UM REFÉM DOS FENÔMENOS CLIMÁTICOS.
Os principais eventos climáticos incluem períodos longos de estiagem e seca, que alteram a disponibilidade hídrica do solo; condições de temperatura extremas e geadas, que provocam alterações no ciclo do cultivo e maior vulnerabilidade das culturas às pragas e doenças; granizos e vendavais, que comprometem a integridade física das plantas; eventos de precipitação excessiva, que influenciam o período de colheita da cultura plantada, assim como atrasar e adiantar o período ideal para iniciar a próxima safra; entre outros diversos extremos climáticos. Além dos eventos climáticos pontuais, o produtor precisa lidar com os fenômenos atmosférico-oceânicos El Niño e La Niña.
No Brasil, os efeitos do El Niño causam escassez hídrica nas regiões Norte e Nordeste, o aumento da temperatura no Sudeste e Centro-oeste e o aumento da precipitação na região Sul. O La Niña gera o aumento das chuvas no Norte e no Nordeste, frio no sudeste brasileiro e seca e o aumento das temperaturas no sul do Brasil.
Embora sejam fenômenos conhecidos, as mudanças climáticas afetam suas manifestações, com aumento da incerteza sobre a intensidade, duração e frequência desses eventos.
Desta forma, faz-se necessário que haja formas de gerenciar os riscos aos quais a lavouras são expostas, para evitar grandes prejuízos.
VARIÁVEIS ADMINISTRÁVEIS DE UMA PROPRIEDADE RURAL.
É comum lembrar de problemas climáticos quando se pensa em riscos da atividade agrícola, mas existe uma série de riscos associados, nem sempre evidentes, que precisam ser levados em consideração. Especialistas propõem a seguinte classificação de riscos:
Riscos de produção;
Riscos sanitários;
Riscos de gestão dos recursos (em especial dos recursos naturais);
Riscos de crédito e comercialização;
Riscos relacionados ao mercado externo;
Riscos decorrentes da infraestrutura;
Riscos do ambiente institucional relacionados a direitos de propriedade mal definidos, mudanças nas regras de comércio e mudanças nas regras relacionadas à própria produção.
Outro importante fator de risco é a dependência de importação de insumos, especialmente de fertilizantes. Desde a década de 1990, a privatização das indústrias estatais de fertilizantes e a facilitação da entrada de produtos importados, por meio de isenção de impostos, fez com que a produção nacional se tornasse muito inferior à demanda interna. Como consequência, a dependência em relação às importações vem aumentando ano após ano.
Atualmente, mais de 70% do consumo total de fertilizantes na agricultura brasileira é suprido por importações.
As soluções para gestão do risco envolvem uma combinação de medidas e de atores. A definição da estratégia e a escolha das políticas são influenciadas por duas dimensões-chaves dos riscos: a probabilidade de ocorrência dos eventos e a severidade dos impactos. Com base nessas dimensões, é possível segmentar os riscos da seguinte forma:
Riscos frequentes, os quais ocasionam perdas pequenas;
Riscos cuja frequência e impacto não podem ser negligenciados e nem assumidos pelos próprios produtores, que buscam proteção via operações de mercado;
Riscos que, mesmo tendo uma frequência pequena, geram grandes perdas e por isso são classificados como catastróficos. Estas perdas não podem ser assumidas pelos produtores e, portanto, justificam-se ações governamentais.
O Brasil já conta com uma série de políticas, programas e instrumentos de gestão de risco. Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF), são alguns exemplos.
O uso crescente de novas tecnologias na agricultura aumentará ainda mais o risco econômico pois exigem grandes investimentos e maior inserção dos produtores nos circuitos financeiros. Pequenas mudanças nos preços e na produtividade podem afetar significativamente a sustentabilidade econômico-financeira dos negócios agrícolas.
Para responder ao crescente número de riscos e perigos, é preciso ampliar a capacidade de antecipar futuros possíveis, de realizar escolhas inteligentes e de planejar trajetórias futuras de forma cada vez mais sofisticada e competente. Acesso a gama de seguros agrícolas, é uma excelente alternativa para mitigação de riscos financeiros.
Houveram perdas consideráveis na cultura de Laranja em boa parte do país, por conta de altas temperaturas. O calor intenso durou aproximadamente 10 dias e provocou um desequilíbrio hormonal que estimulou a queda dos frutos. A região mais afetada foi justamente o estado de São Paulo, de maior importância na produção do país, com 38% de produção a menos que a safra anterior na região norte do estado, 23% na região noroeste e sul, e 10% na região central.
A CANA-DE-AÇÚCAR foi afetada pelo clima adverso durante a temporada, dando a quebra na região Centro Sul, sendo Goiás o estado mais prejudicado. Houve quebra em 35 milhões de toneladas. Em São Paulo, a quebra média verificada foi de 5%, mas em algumas regiões, como no oeste do estado, chegou a 10%. No Nordeste, a produção de cana-de-açúcar no estado de Alagoas também foi prejudicada devido à estiagem.
No TRIGO, a região Sul, Paraná presenciou perdas nas lavouras devido à associação entre um período de seca prolongada e as geadas, o que reduziu a produção a 2,6 milhões de toneladas. Em Santa Catarina, a queda na produção de trigo foi de 38%. As perdas tiveram como causa o período de estiagem que durou cerca de um mês. A área plantada foi 26% menor que a do ano anterior. Na colheita, a safra sofreu com excesso de chuvas. Estes fenômenos alteraram a qualidade dos grãos e a queda na produtividade.
Apesar da safra de grãos de 2017/2018 ter obtido o posto de segunda maior safra da história até o ano de 2018, foram verificadas algumas perdas, principalmente na cultura de milho.
O atraso no plantio da soja da safra anterior ocasionou um atraso no plantio do milho, de forma a ficar fora da janela recomendada pelo ZARC para o plantio, resultando em impactos na produtividade, que aliado à redução na área plantada, provocou perdas na produção.
A diminuição do potencial de produtividade foi verificada em grandes estados produtores, como GOIÁS, MATO GROSSO DO SUL e PARANÁ.
Além da quebra do milho por conta do atraso no plantio associado ao período de estiagem, a cultura do feijão no PARANÁ, também apresentou quebra de produção, contudo, diferente do milho, o motivo foi o excesso de chuvas ocorridas no período de desenvolvimento da lavoura. A produção obtida estimada era 18% menor em volume do que a da safra anterior.
O ano de 2019 trouxe perdas para a safra brasileira 2018/2019 de soja, isto por conta do grande período de estiagem entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019. As quebras que aconteceram em decorrência destes eventos climáticos foram verificadas em 12 estados, a estimativa era de perdas de até 16 milhões de toneladas para a safra 2018/2019. Dos doze estados, o Paraná foi o estado mais afetado pelos problemas climáticos, e a previsão era de perdas de 30%, além da quebra em outras culturas como café, e Trigo.
Em seguida a Bahia e o Piauí, com perdas estimadas de 20%, Goiás com 17%, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, cada um com 15%. São Paulo e Tocantins contabilizam prejuízos em 10% da safra, seguidos por Mato Grosso (8%), Maranhão (7%), Santa Catarina (5%) e do Rio Grande do Sul (5%), onde o problema foi o excesso de chuvas.
O Rio Grande do Sul previa uma produção de arroz 11% menor que a safra anterior. As perdas desta safra foram causadas pelas chuvas que causaram enchentes nas lavouras. O estado na época era responsável por 70% da produção nacional do arroz.
O ano de 2020 sofreu com uma das secas mais intensas desde o começo dos anos 2000.
Os parâmetros utilizados para avaliar a gravidade da seca incluem a extensão, duração e volume de água perdido durante a seca. A causa prioritária desta seca foram os efeitos do fenômeno La Niña. A seca provocou grandes quebras na agricultura brasileira, sendo a região Centro-Sul a mais afetada.
No Rio Grande do Sul, as perdas diretas e irrecuperáveis causadas pelo período de seca nas lavouras de milho e soja chegaram a 21% e 16%, o que se traduzia à R$4,8 bilhões. A soja teve uma queda de cerca de 46% da produção, enquanto o milho teve uma redução de produção de cerca de 31% e o feijão apresentou uma queda de produção de 14%.
De forma geral, a previsão do levantamento afirmou uma redução de 28,7% na colheita de grãos. Após os problemas com a seca, em agosto, o estado gaúcho noticiava perdas na lavoura de trigo, isso por conta da onda de frio comum para o período do ano em questão.
As Seguradoras tinham previsão de desembolsar até R$1,89 bilhão em pagamentos e indenizações aos produtores rurais do Rio Grande do Sul, devido ao período de seca que afetou a safra. O evento causou cerca de 97% dos comunicados de perdas no estado e o milho e a soja representavam 95% desses acionamentos. Em relação ao total do país, o estado representava até maio, 80,5% dos comunicados do Proagro.
Em 2021, as principais perdas na agricultura brasileira ocorrem nas culturas de milho segunda safra e feijão. As principais causas dessas perdas foram a crise hídrica em decorrência do período de seca, e as fortes geadas que ocorreram na metade do ano.
O inverno de 2021 foi mais rigoroso, o clima frio causou perdas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul que tiveram perdas na produção da segunda safra de milho e o Paraná foi atingido por geadas que prejudicaram as lavouras.
Outra cultura que apresentou quebra foi o café. A expectativa era de uma produção total de 48,8 milhões de sacas de 60 kg, 22,6% inferior à safra passada. Para a laranja, as estimativas apontavam uma redução de 26 milhões de caixas (-8,9%) frente à estimativa inicial da safra. Na cana-de-açúcar, a expectativa era de queda de 9,5% na produção com um volume total de 592 milhões de toneladas na safra.
No Paraná, foi a pior safrinha de milho dos últimos anos, a produção entregue foi metade da safra anterior. Além do café e do feijão, a cultura da mandioca também previa uma redução de 4%.
No Mato Grosso, a escassez de chuvas prejudicou o desenvolvimento do milho segunda safra, algumas regiões enfrentaram 40 dias de seca que ocasionaram perdas estimadas em até 50% da área.